AS BORBOLETAS...

Convido você a pensar sobre questões fundamentais para o ser humano. A maioria de nós está em constante busca de viver bem, de usufruir da vida e de nos desvencilhar da solidão.

Nossa história nos formou. Somos quem somos devido aos sistemas dos quais fazemos parte.

Ao mesmo tempo que ansiamos por um amor verdadeiro, que nos traga segurança, proximidade e cuidado; também desejamos viver paixões que nos revigorem, que acordem nosso desejo, que faça nossos corpos suspirarem.

O erotismo também é uma parte essencial de nós. É a propulsão de vida, o exalar da essência humana, a descoberta de si mesmo. Ele requer distanciamento, mistério, busca o inusitado, a espontaneidade, o perigo, o inseguro...Busca o encontro e o desencontro, ao mesmo tempo.

Falariam o amor e o erotismo duas línguas distantes? Em que etapas do caminho eles podem se cruzar? Pode uma relação estável manter acesa a chama do desejo após muito tempo? Conversaremos sobre estes e outros temas...




sexta-feira, 16 de outubro de 2015

DA SÉRIE A DOR DE CADA UM- AS REAÇÕES DE DEFESA E O ATAQUE AO OUTRO


Algumas pessoas me pediram para falar um pouco mais sobre as reações de defesa inconscientes (que discorri no post anterior) e como podemos estar atacando o outro nesse processo.
Quando escrevo, falo sobre mim, minhas percepções, das conversas que tive, olhares, sorrisos e colocações até que não me dizem respeito, mas que captei nos meus dias. E se elas se fizeram notar por mim, no consultório, nos filmes, artigos, conversas, palestras ou onde quer seja; significa que estão também em mim, em algum lugar.
As inquietações apontam para o que, internamente pensamos, para nossos medos, desejos, expectativas, frustrações, e tantos outros conteúdos que aparecem, pois estão dentro de nós; e tudo isso é parte fundamental do desenvolvimento e crescimento na caminhada. Precisamos passar por cada etapa.
Pense comigo: Nossos filtros internos interferem na forma como enxergamos a realidade. Podem criar uma realidade mais ou menos assustadora. Exageram, distorcem, minimizam, entristecem.
Que filtros seriam esses? São ações de defesa que atuam para nos privar do medo. Todos temos medo. Ele é uma sensação natural. Esse é um sentimento vital, que atua em toda natureza desempenhando um papel importante e natural de preservação, proteção, sobrevivência.
Faz parte de nós. Não é feio ou errado sentir e assumir que sentimos. A maioria de nós não percebe que o medo em si diz respeito a nossa mente. Ele não é concreto, não é algo palpável.
O medo é traduzido nas reações que a mente produz diante de estímulos diversos, que diferem de uma pessoa para outra. Seria um sentimento de insegurança interno, que atribuímos a uma pessoa, um objeto, uma situação real ou imaginária ou mesmo uma antecipação dela. Mas está dentro de nós.
Medo de ser abandonado, medo do fracasso, medo do novo, medo da solidão, medo da rejeição, medo da dor, de ser magoado; medo do desconhecido.
De acordo com a nossa história, o que vivemos, a percepção da vida, os episódios marcantes, as lutas, desafios, e tudo o que tivemos que enfrentar; desenvolvemos ações de defesa, filtros, que de alguma forma seria uma maneira de obter segurança, pelos medos que são abrigados dentro de cada um. Esses filtros colorem as próprias lentes perceptivas e essas interferem em como enxergamos as realidades, os acontecimentos.
Os acontecimentos de hoje são importantes, é preciso estar no presente. E por isso é necessário se dar conta e se perguntar se as reações realmente condizem com os fatos acontecidos no momento, ou estão desproporcionais, por estarmos colorindo, exagerando pelas defesas, travas e medos por tudo o que vivemos no passado recente ou remoto.
Por esses filtros podemos colorir uma realidade mais para vermelho, laranja, onde tudo é cheio de vibração. Ou mesmo tomar a proporção “blue”, sentimentos de apatia e falta de energia, Ou a tornar acinzentada, onde perceberemos o que acontece com um determinado grau de tristeza, apreensão, distanciamento nos deixando até meio perdidos; outras vezes as cores passam a ser pretas, e os acontecimentos tomam um peso enorme e nos afetam, nos ferem. Mas repito, são distorções só nossas. E no exato momento, podemos não nos dar conta do que está acontecendo. Apenas sentimos que é pesado demais.
Quando isso acontece, na maioria das vezes tentamos transferir para o outro a responsabilidade das nossas reações: “Agi assim por que você fez isto ou aquilo”, “Ninguém me entende”, “Minha mulher não compreende meu momento”, “Meu marido só pensa nele”, “Se eu tivesse isso ou aquilo seria diferente”, e tantos outros movimentos para fora. E por todas as emoções envolvidas, não nos damos conta do quanto superdimensionamos o que nos aconteceu.
Não é uma questão de buscar quem cometeu a falha. O que quero pontuar é que em determinadas situações reagimos e nem nos damos conta disso. É mais fácil olhar o outro, interpretar suas atitudes, analisar o externo. Pelas distorções e apreensões que nos pressionam internamente, e todos os medos envolvidos, e o incômodo que invade, tentamos esvaziá-las, e na maioria das vezes atingimos quem está mais perto.
É um processo inconsciente de aliviar o peso e a pressão, e assim, repetidas vezes tentamos passar adiante, tirar de nós o foco. Segundo Freud, o pai da psicanálise, pulsões internas, que consideramos inaceitáveis ainda buscam se expressar, mesmo quando já trabalhamos com elas, mesmo que as conheçamos. Vez por outra elas teimam em retornar. Quando acontece, temos a tendência de nos proteger, elas são inaceitáves. Por isso o ataque. A proteção é natural. Faz parte do nosso instinto de sobrevivência, inclusive emocional. É uma forma de evitar a dor e a frustração. Por isso é preciso conversar com nosso coração várias e várias vezes, de tempos em tempos. Quando o incômodo bater, as perguntas a nós mesmos são fundamentais.
Até ler um texto como este pode, ao invés de nos fazer olhar para dentro, reforçar a mesma posição de buscar fora de nós as respostas:
“Puxa, foi assim que meu marido reagiu, ele está colocando em mim a responsabilidade, ele sempre faz isso”; ou “Fulana precisa ler isto, ela vive fazendo isso comigo”. Nesse momento eu não gostaria que você pensasse em alguém que faz isso com você, que age assim, no seu marido, esposa, filho, amigo, chefe. Gostaria que apenas e tão somente voltasse para si mesmo, e refletisse comigo:
“Quando EU ajo dessa forma?”. “Em que momentos, ou que acontecimentos eu posso ter percebido com lentes mais escuras, mais vibrantes do que realmente se mostravam, e por isso eu reagi com tanta força. Isso move que sentimentos dentro de mim?”.
“Por que estou tão incomodado? O que me leva a sentir o que aconteceu de uma forma tão pessoal?”, “Por que esse assunto me mobilizou tanto, que sentimentos eles fazem ecoar dentro de mim?”, “Por que estou levando essa determinada pessoa que me “atacou” dentro de mim, por que eu me dexei irritar dessa forma?”, “O que me tira a leveza quando penso nesse assunto específico?”, “O que realmente me desestabiliza quando isso me acontece?”, “Que sentimentos e emoções me afloram quando me deparo com situações como estas, ou com esse tipo de fala?”, “Por que coloco peso em coisas que aparentemente são tão simples?”, “O que realmente estou protegendo, que medos eu tenho?”.
Essas e outras perguntas são essenciais para o auto-conhecimento contínuo. Não é porque já nos conhecermos, que estamos imunes à auto-proteção, até mesmo exagerada. Não estamos e nunca estaremos. O que vai acontecer é que com a conscientização, reconhecimento de quem realmente somos e maturidade conseguiremos agir menos reativamente, diminuindo as chances de sermos esmagados e paralisarmos. E além disso, podemos ter relacionamentos onde antes de apontar as falhas do outro, nos daremos conta do que acontece dentro de nós. E assim seremos mais harmônicos.
Às vezes fico feliz com o que encontro dentro de mim, outras vezes me deparo com o que não gosto muito. Mas esse emaranhado sou eu. Não é feio sentir o que sinto. Não é errado ter sentimentos “negativos e não felizes”.
Se aceito quem sou, aceito minhas fortalezas e fragilidades, e inclusive acolho todos os sentimentos que me veem. Inclusive os que me entristecem. Não acolhe-los só me leva a fortelece-los, a coloca-los sob foco e assim, eles passam a dirigir a forma como me sinto e como reajo na maioria das vezes. Por isso, eu os deixo vir e ir. Pois é assim que são, voláteis.
Todos nós temos luzes e sombras. E vamos continuar a ter. Isso significa que temos sentimentos e reações que não gostaríamos de ter, mas os temos. Aceite-os. Não tem como transformar as reações sem saber a que sentimentos elas estão ligadas, o que as move. Descobrir e admitir sentimentos e reações negativas, libera esses sentimentos, e facilita a sua mudança.
Não precisa sair por ai falando dos seus medos e sentimentos para qualquer pessoa. Se precisar procure a ajuda de um profissional, ou escolha alguém que considera confiável e maduro para lhe ouvir. Porém o mais importante é que os encare. Assuma para você mesmo que os tem, sem julgamento. Dê nome ao que sente: Medo, raiva, insegurança, sentimento de rejeição, alegria, nojo, tristeza, ansiedade. Vá mais fundo. Investigue dentro de si quais dessas emoções estão lhe movendo. Medo de que? Ansiedade por qual motivo? Insegurança de perder o que? Raiva de quem? De você mesmo? Você se aceita? Sente culpa? Não saber também é uma resposta. Seja verdadeiro. E saiba, esses sentimentos fazem parte de você HOJE. Amanhã eles poderão não mais estar ai. Eles não o determinam e não o rotulam como pessoa, como ser. Eles vem e vão. Deixe-os aparecer e ir. Eles fazem parte da sua caminhada e o ajudam a lidar com as tempestades da vida. Acredite.
Assuma quem você é, com as luzes e também as sombras. Não use máscaras para agradar a quem quer que seja. O mascarar internamente funciona como uma bomba relógio, que vai potencializar todos esses sentimentos que considera negativos. Também não tente provar para o outro o que está enxergando, nem a mudança que está acontecendo dentro de você. Apenas se permita viver esse momento e aja de acordo com todo esse movimento interno de aceitação e de transformação.
Para mudar é preciso agir diferente. Comece devagar. Tente enxergar de forma mais clara possível o que se passa dentro de você. Não tenha temor de que assumindo e acolhendo esses sentimentos de sombra ele irão perseverar. Pelo contrário. Só existe esse caminho para que aconteçam mudanças. É parando de julgar o que sente, parando de fazer de conta que eles não estão dentro de você. É assumindo que eles também fazem parte de você. Assim eles perdem a força. E você poderá viver com mais leveza e paz. Sem lutar com o que existe dentro de você.
jacpsicologa@gmail.com

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