AS BORBOLETAS...

Convido você a pensar sobre questões fundamentais para o ser humano. A maioria de nós está em constante busca de viver bem, de usufruir da vida e de nos desvencilhar da solidão.

Nossa história nos formou. Somos quem somos devido aos sistemas dos quais fazemos parte.

Ao mesmo tempo que ansiamos por um amor verdadeiro, que nos traga segurança, proximidade e cuidado; também desejamos viver paixões que nos revigorem, que acordem nosso desejo, que faça nossos corpos suspirarem.

O erotismo também é uma parte essencial de nós. É a propulsão de vida, o exalar da essência humana, a descoberta de si mesmo. Ele requer distanciamento, mistério, busca o inusitado, a espontaneidade, o perigo, o inseguro...Busca o encontro e o desencontro, ao mesmo tempo.

Falariam o amor e o erotismo duas línguas distantes? Em que etapas do caminho eles podem se cruzar? Pode uma relação estável manter acesa a chama do desejo após muito tempo? Conversaremos sobre estes e outros temas...




segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Amor e Paixão: Antagonismos possíveis?



Somos seres antagônicos. 

Nossos desejos rebelam-se contra nossos paradigmas arraigados desde muito tempo,nos levando a escolher entre o amor ou a paixão. Acredito no amor, e o busco nas minhas relações. Penso que ele é a base de uma vida que vale à pena em todos os sentidos que isso possa ter. 

Dentro da relação conjugal não poderia ser diferente. Amor significa muitas coisas, depende das percepções e necessidades individuais e subjetivas. Portanto, não há apenas um significado para esse sentimento tão amplo. São diversos, e cada significado pode ser desdobrado em vários outros. Quanto se trata de relações conjugais e amorosas, a coisa também não é tão simples. 

Os sentimentos, atitudes, necessidades e desejos duelam, muitas vezes entre si. Quando amo alguém, isto não significa que vou me dar bem com ele na cama. Não significa que o sexo vai ser extraordinário, como é o sentimento dos dois. O desejo e a eroticidade não caminham por traçados lineares, e nem seguem regras estabelecidas dentro de um acordo entre parceiros. O desejo é livre e busca impulsos vitais, energia, sedução, descobrimentos, sensações, imprevisibilidade e até um pouco de insegurança, que apimenta a sua intensidade. Ao mesmo tempo, nós seres humanos temos necessidade de segurança, estabilidade, proteção... o que é conseguido através de uma certa previsibilidade. Então, temos desejos e necessidades bem duplas, puxando para lados opostos. 

Como isto é possível? Nossas necessidades de permanência, confiabilidade, estabilidade e continuidade vão de encontro ao nosso desejo de diversidade, exploração do desconhecido, paixão e novidade. Todos esses sentimentos fazem parte da mesma pessoa, e precisam ser entendidos como partes de antagonismos. E o questionamento é se ambos conseguem conviver dentro do mesmo ser. 

Penso que não é necessário matar um lado, para que o outro sobreviva. O desafio é conciliar a necessidade de segurança e previsibilidade com o desejo de buscar o que é empolgante, misterioso e espetacular. Por não se darem conta desse desafio, muitos casais abrem mão da paixão e da eroticidade para viver o sonho da estabilidade e do conforto do amor numa relação estável e se acomodam com seu efeito diminuidor sobre a vida erótica. Por isso, muitos se conformam que as coisas caminham necessariamente para o ponto onde ambos se acostumarão com o tédio sexual dentro de um casamento, pois "as coisas são assim mesmo. É o caminho onde todos chegarão!". 

O desejo caminha passo a passo com a incerteza, com os riscos, as expectativas. Porém esses componentes não se afinam com aqueles que tentam controlar os riscos da paixão, pois faz parte de sua essência; e transformam a relação num tédio de repetição de caminhos já conhecidos, onde a energia das descobertas se desvanecem. Para evitar qualquer perigo, os casais abrem mão da paixão, e a desmerecem como um sentimento banal e passageiro, em função da durabilidade do amor. Escolhem necessariamente um ao outro. Transformando assim, suas relações em águas calmas e previsíveis. Tirando dela o enlouquecimento, a vivacidade e a empolgação do desejo e da paixão.Será que temos que optar por um ou por outro? Não será possível a paixão conviver com o amor numa relação duradoura?? A calmaria das relações é tudo o que realmente se quer? Não sinto falta de algo que me balance e me tire da serenidade vez por outra? 

Anthony Robbins diz que a paixão numa relação é proporcional ao grau de incerteza que você pode tolerar. Como então introduzir essa incerteza em nossos relacionamentos íntimos? Como criar esse suave desequilíbrio de forma a não abrirmos mão de uma vida sem paixão, sem desejo e sem eroticidade em função de um amor duradouro, que é mais importante que um sexo quente, onde a maturidade prevalece e a serenidade prepondera? 

A paixão não é somente a embriaguez da adolescencia, transitória e irrealista. E não precisamos do consolo de não a ter pela segurança do amor do outro lado da ponte. Quando trocamos um pelo outro estamos abrindo mão de vivermos intensamente um lado importante de nós mesmos, que com o passar do tempo vai deixando um buraco enorme na nossa existência. O amar, por sí só já nos leva ao risco da perda. 

A introdução da incerteza às vezes nada mais é que abrir mão da ilusão da certeza, pois quem de fato não vive uma impermanência nas relações, já que a vida é transitória? "Se quisermos continuar desejando uma pessoa, precisamos trazer um sentimento de desconhecido para um lugar familiar."( Esther Perel). 

"A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar paisagens novas, mas em enxergar com olhos novos." (Proust) A incerteza e o mistério são traços inerentes do desejo e paixão. Nós não sabemos tudo sobre os nossos parceiros, nem precisamos saber. Somos, muitas vezes prepotentes por não enxergar que ainda há muito a ser descoberto, que não sabemos dos seus pensamentos, que não podemos prever suas atitudes e principalmente, não somos sabedores dos seus inconscientes. 

Nunca conhecemos nosso parceiro como julgamos conhecer. Muitos se surpreendem ao constatar essa verdade de uma forma, as vezes, trágica. Somos mutantes. O que sabíamos pode mudar q qualquer instante. E isto torna o contato e a relação intrigante e apetitosa, apesar do medo que isto possa causar. Quando prendemos a nós e o nosso parceiro a limitações fixas os dois lados perdem. 

Tiramos de nós e do outro a liberdade de ser, de pensar e de desejar o que realmente querem; o que leva a paixão, o desejo e a eroticidade para o buraco. A autenticidade e beleza da espontâneidade e da leveza tem outros parâmetros para se desenvolverem e procriarem, através de belezas e sensações possíveis dentro de uma relação estável, desde que abramos mão do controle, que apesar de nos trazer segurança, nos priva da energia, alegria e loucura da paixão. 

Acredito que o amor e a paixão podem conviver, mas precisamos aprender a não afogar um sentimento em função do outro. É preciso encarar o que cada um precisa para sobreviver. E há caminhos diversos e totalmente auteros na vida de cada casal. 

Como descobrir esses caminhos? Primeiramente sentindo necessidade dessa descoberta, e nos permitindo refletir sobre quem realmente somos dentro da relação, quais os nossos medos e, principalmente, desejando ardentemente viver intensamente cada momento e fase da vida a dois; sabendo que não precisamos matar lados de nós para que outro sobreviva. Desta forma, seremos capazes de buscar e de encontrar formas de viver nosso amor e paixão da melhor maneira possível.É necessário, mais que tudo, sairmos da comodidade de uma relacionamento sem graça e nos lançarmos ao aprofundamento de inquietudes que nos levarão a novas descobertas, mesmo dentro de uma relação de anos. 

Uma coisa eu acredito: É possível. Não significa que é fácil, mas isto já é um outro assunto.